terça-feira, 12 de junho de 2018

Snorkel para Natação tem o mesmo efeito do treino em Altitude?


É relativamente comum escutarmos que o snorkel frontal para natação ou a máscara restritiva simula o treinamento na altitude. Será que esta afirmativa tem embasamento? Aos fatos – O ambiente de altitude é hipobárico (pressão atmosférica baixa) o que resulta numa Pressão de O2 menor, ocasionando uma difusão pulmonar reduzida e por sua vez menor transporte de O2 para os tecidos. Embora haja variação da pressão de acordo com a altitude a porcentagem de 21% de oxigênio no ar é a mesma ao nível do ar ou em elevada altitude. O que muda é a pressão parcial! Ao utilizarmos um snorkel (natação) ou  uma máscara restritiva (ambiente terrestre), o que ocorre é uma restrição na respiração. No caso da restrição do snorkel necessitaremos fazer mais força para inspirar, mas a pressão parcial dos gases é a mesma do que se estivéssemos sem o equipamento, ou seja, analisando por este prisma a restrição da respiração não tem quase nada em comum com o treinamento na altitude. Sem contar que no treinamento de altitude os atletas permanecem na altitude e não somente na hora do treino, ou seja, as adaptações não ocorrem somente no momento do exercício. Ainda existem outros modelos de treino em altitude como o viver no alto e treinar no baixo.
Como a pergunta é simular e não equivaler, poderíamos elucubrar sobre os efeitos de ambos os treinos fornecerem respostas fisiológicas semelhantes. Porcari et.al.(2016) testaram 24 sujeitos moderadamente ativos por 6 semanas realizando treinamento de alta intensidade em bicicleta estacionária, sendo um grupo com máscara restritiva e outro sem (controle). Os seguintes achados foram reportados: Apesar de melhora significativa em alguns parâmetros (como Vo2máx) o estudo fecha com a conclusão de que não houve mudanças nos níveis de hemoglobina ou hematócrito, para os autores o treinamento de restrição da respiração não simula a altitude. Já Biggs et.al. (2017) falharam a tentar encontrar superioridade na aptidão respiratória após 6 semanas de HIIT para o grupo com máscara em relação ao grupo que não utilizou.
A observação das condições da altitude + os resultados obtidos com ambos os treinamentos, pode-se afirmar que o treino com aparato restritivo não simula a altitude. Entretanto podem existir efeitos positivos com o uso destes aparatos (devem ser avaliados criteriosamente pelo professor). No caso do Snorkel para natação além de um possível trabalho respiratório aumentado (maior força inspiratória) temos também a possibilidade do trabalho técnico de braçada melhorado, uma vez que o fato de não girar para a respiração propicia um ótimo momento para observação da braçada e correção de sua técnica, além de um relaxamento da região cervical. De toda forma os poucos relatos de estudos com estes equipamentos tornam difíceis algumas inferências...então mãos a obra...bora pesquisar.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

TREINO DE NATAÇÃO, O QUE SIGNIFICA A1 A2 A3....?

Na postagem anterior falei sobre o T30 e citei os termos “A1” “A2”... Alguns me escreveram solicitando mais informações, pois assim como no T30 também tinham dúvidas do que realmente significavam estes termos. Obs: as dúvidas em sua maioria não partiram dos profissionais e sim dos alunos e atletas de natação, ou seja, nós treinadores devemos estar atentos ao que falamos! Se o aluno/atleta não entende o que estamos falando, a tal padronização de nomenclaturas e termos vai por água abaixo no que diz respeito ao controle da intensidade e, por conseguinte piores resultados no treinamento.
A ideia surgiu a partir de técnicos da CBDA no intuito de padronizar a nomenclatura para unificar a linguagem nos encontros profissionais, congressos e treinamentos. O “A” representa o sistema aeróbio (ou aeróbico...rs...isso é outra discussão) e “AN” anaeróbio.
A0 seria oxidativo, intensidade baixa, utilizado no aquecimento, volta à calma (regenerativo).
A1 seria oxidativo, intensidade baixa e com objetivo de manutenção, também pode ser utilizado no aquecimento.
A2 seria oxidativo, intensidade média e com objetivo de aquisição de resistência. (alguns autores indicam esta intensidade (velocidade) como o limiar anaeróbio.
A3 seria misto (oxidativo/glicolítico), intensidade alta e com objetivo de potência aeróbia.
Analisando o supracitado dá para perceber que ainda sim podemos correr o risco de estarmos trabalhando no escuro, ou seja, voltamos a falar dos não palpáveis percentuais. Para não correr este risco, basta associar os resultados com algum teste (velocidade crítica, T400, T30 etc...), onde o tempo atingido para cada 100 metros fica próximo do A2, ou seja, o atleta saberá em qual tempo fazer.
Há também os que sugerem uma associação com valores de Fc para cada faixa, mas particularmente não sou a favor, uma vez que a resposta fisiológica da imersão promove uma redução da Fc em comparação com o ambiente terrestre e esta variação depende de uma série de fatores: temperatura da água, posição do corpo, percentual de imersão e variação individual.
E o “AN”? Em breve... Abraços aquáticos
KLAR, A; LIMA, W. Atividades Aquáticas, pedagogia Universitária, vol.4 2a ed. Literativa, São Paulo, 2005.



terça-feira, 20 de setembro de 2016

Aeróbio - O Patinho feio?

A onda do momento é condenar o exercício aeróbio contínuo de baixa e moderada intensidade. De fato em termos de gasto energético e resultados para emagrecimento sabemos que não é a melhor estratégia. Lembro-me muito bem há uns 10 anos atrás quando ainda atuava no salão e setor cardio era quase impossível convencer o aluno a sair da tal zona de queima de gordura apresentada em gráfico na esteira, quando o nome estava em inglês “Fat Burn Zone” ai era pior...kkk. Por mais que explicasse que se conseguissem fazer os mesmos 30 minutos em intensidade maior o gasto seria superior e o EPOC idem...enfim...em vão. Mesmo assim me incomoda a forma como uma estratégia de exercício é ridicularizada e condenada atualmente. Parte dos que condenam o aeróbio contínuo, bradam em tom quase político que o HIIT é o que deve ser prescrito e o aeróbio só serve para o que gostam de correr. Antes de tudo quero dizer que indico, prescrevo e faço o HIIT, porém está de longe ser a única estratégia. Até agora só falando por observação e experiência própria (o que não serve de nada, a não ser que seja um gênio ou semideus), mas o que as pesquisas nos mostram? De fato vários estudos demonstram a eficiência do método e/ou sua superioridade sobre o aeróbio contínuo (CASSIDY et al., 2015FISHER et al., 2015KETEYIAN et al., 2014LIOU et al., 2015SHIRAEV; BARCLAY, 2012). Porém Mikami et al. (2015) estudaram os efeitos de 55 minutos de exercício em bicicleta estacionária (entre 60 – 70% do VO2Máx) durante 8 semanas sobre a Irisina e gordura corporal em jovens e homens de meia idade ou idosos. Encontraram aumento nos níveis circulantes de irisina somente para o grupo de indivíduos mais velhos, com redução de gordura corporal, especulando que o exercício aeróbio contínuo pode ser útil para esta população. Ahhhh...sabe quem era um dos autores? Izumi Tabata (até lembrei-me de uma música “meus heróis morreram de overdose...” – uma alusão meio louca). Outro ponto pouco abordado são os efeitos do HIIT sobre o sistema imune, por exemplo, será que devo fazer HIIT para todos e todo dia? Tossige-Gomes et.al(2016) afirmam que os efeitos do treinamento intervalado de alta intensidade sobre a imunidade são pouco conhecidos e em seu estudo encontraram redução de linfócitos T (importante para imunidade), chamando atenção para mais pesquisas a respeito dos efeitos agudos do HIIT sobre imunidade. O segredo é estar sempre antenado e não tomar como verdade qualquer informação.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Alongar ou não (antes da natação), eis a questão.



Uma cena comum é observada antes da prática de atividades físicas, exercícios físicos e competições, o alongamento. È senso comum a utilização de movimentos de alongar pré e pós o exercício, tendo o status de ser profilático e benéfico ao desempenho físico (Rubini, Costa et al. 2007). No entanto, pesquisas científicas sugerem que esse recurso pode ser prejudicial quando aplicado de forma aguda ao desempenho de valências físicas fundamentais ao rendimento atlético (Nelson, Guillory et al. 2001; Cramer, Housh et al. 2004; Shrier 2004; Hayes, Kindig et al. 2005; Marek, Cramer et al. 2005; Nelson, Driscoll et al. 2005; Rees, Murphy et al. 2007; Behm and Chaouachi 2011; Mikolajec, Waskiewicz et al. 2012) e que o mesmo não diminui o risco de lesões (Gleim and McHugh 1997; Farinatti 2000; Pope, HERBERT et al. 2000; Andersen 2005).
Qual a explicação para esta quebra de paradigma? Os exercícios de alongamen­to parecem produzir uma diminuição aguda na viscosidade das estruturas tendinosas (Kubo, Kanehisa et al. 2001), permi­tindo que as fibras musculares deslizem com menos eficiência para a realização do movimen­to. Ao mesmo tempo, exercícios de alongamento podem gerar um aumento da complacência mus­cular, que pode limitar a quantidade de pontes cruzadas, diminuindo a capacidade do músculo para produzir força (Wilson, Murphy et al. 1994) e, além disso, o alongamento parece promover uma menor ativação das fibras intrafusais, devido uma menor excitação dos α-motoneurônio (redução da sensitividade reflexa (Fowles, Sale et al. 2000). Deve ser destacado também, que durante o alongamento estático ocorre uma elevação da concentração intracelular de Ca++ e isso se relaciona com a redução na tensão máxima de contração (ARMSTRONG, DUAN et al. 1999; Nelson, Kokkonen et al. 2005). Então, todos os fenômenos supracitados podem ser ativados pelo alongamento muscular e contribuir de maneira direta sobre o sistema neuromuscular, comprometendo assim o desempenho do nado, principalmente, em provas que necessitem desta produção imediata de força.
Importante ressaltar dois tópicos importantes – qual método de alongamento utilizado? e o tipo de atividade na natação (competição, treino ou recreacional). Existe uma discussão semântico-fisiológica quanto à denominação do termo alongamento, o que não é foco desta resenha. Porém não podemos colocar todos os tipos e maneiras de alongar a musculatura no mesmo saco, pois são bem diferentes entre si e parece que os métodos que trabalham em intensidades de estiramento próximas do máximo ou no máximo de fato podem atrapalhar o desempenho e não ter qualquer efeito de segurança (muito pelo contrário), assim como é importante o tempo de execução.
Ao considerar os efeitos agudos do alongamento como prejudiciais ao desempenho físico, os presentes resultados se somam a literatura (Nelson, Guillory et al. 2001; Hayes, Kindig et al. 2005; Nelson, Driscoll et al. 2005; Behm and Kibele 2007; Rees, Murphy et al. 2007; Costa e Silva, Silveira et al. 2012; Mikolajec, Waskiewicz et al. 2012). O problema para abrir uma discussão aqui é que os estudos não são para a natação, ou seja, uma lacuna na literatura.
Nosso grupo do Laboratório de Fisiologia do Desempenho Humano (LDFH/UFRRJ) realizou um estudo que comparou alongamento estático ativo, facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e controle, encontrando piora no desempenho em provas de curta distância (50m) em atletas universitários (Costa e Silva, 2014).
Utilizar métodos que sejam intensos antes de competições é temerário e desnecessário antes de treinos, agora aquela alongada prévia e tradicional dos nadadores (quase uma perfumaria) não tem problema algum. De toda forma eu continuo indicando o aquecimento direto na piscina como a melhor forma de se iniciar um treino ou uma competição...agora qual método de aquecimento utilizar? (isso é outra resenha)
Costa e Silva, G., A. Silveira, et al. (2012). "Efeito agudo do alongamentocestático sobre a força muscularcisométrica." Conscientiae Saúde 11(2).
Dantas, E. H. M., R. Daoud, et al. (2011). "Flexibility: components, proprioceptive mechanisms and methods." Biomedical Human Kinetics 3: 39 – 43.
Torres, J. B., M. C. S. C. Conceição, et al. (2009). "Acute effects of static stretching on muscle strength." Biomedical Human Kinetics 1(-1): 52-55.